sábado, 22 de outubro de 2011

Educação - Paródias de músicas ajudam alunos a estudar para o Enem e o vestibular


 
Paródias de músicas ajudam alunos a estudar para o Enem e o vestibular

Banda paranaense grava CD de 'rock educativo' para ensinar português.
Músicas de Luiz Gonzaga, Kid Abelha e Daniel ganharam versão educativa.

Ana Carolina Moreno Do G1, em São Paulo 

"Advérbio é a palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo ou outro advérbio. Modificando o verbo fica assim: o garoto vai cantar, o garoto vai cantar bem." O que parece uma aula normal de português na verdade é a letra da música "Advérbio", composta pela banda Sujeito Simples, que desde 2007 tenta difundir no Brasil um novo estilo musical: o rock educativo.

Muitos estudantes costumarm usar músicas para reforçar o estudo para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e as provas do vestibular. O líder do Sujeito Simples, o publicitário Marcelo Darcini, de 35 anos, diz que a ideia inicial era publicar uma revista com rimas para ajudar as pessoas a estudarem, mas acabou se rendendo à música. "Fui fazer um concurso, comecei a fazer músicas estudando para memorizar melhor, vi que dava resultado e comecei a fazer mais músicas”, explica.

Hoje, a banda tem um CD com músicas relativas a elementos da Língua Portuguesa vendido a R$ 20 pela internet, e prepara um novo álbum para o fim do ano. O valor da renda serve para cobrir os gastos com a gravação do disco e a produção da revista com cifras das músicas. “Quem está comprando mais o material é o professor, mas tem alunos que levaram a revista para tocar as músicas na classe.”

Outro recurso musical usado por vários professores e alunos de todo o país são as paródias de músicas famosas, que ganham versões acadêmicas para ajudar a assimilar o conteúdo da sala de aula. No Instituto Henfil, em São Paulo, o que era uma pacata aula de gramática pré-vestibular, por exemplo, acabou virando um show.

Ao tentar manter a atenção dos estudantes, o professor Maurício Araújo, de 28 anos, decidiu criar paródias de canções conhecidas usando as regras gramaticais. Chegou a ser tão bem sucedido que já conseguiu fazer 300 alunos cantarem sobre as características do sujeito ao som da música “Estoy enamorado”, da dupla argentina Donato e Estéfano, que teve versão em português interpretada pelo cantor Daniel.

"Quando se trabalha com gramática normativa é muito fácil perder a atenção do aluno”, explica Maurício, que, além do “Sertanejo do sujeito” – seu hit mais recente –, criou músicas sobre crase, regência verbal e o polêmico “Rap dos pronome”.

Paródias
A música como auxílio ao aprendizado também é usada professores de ciências biológicas e exatas. Bruno Zeitone, de 28 anos, aplica o método desde 2007 nas aulas de biologia do Vestibular de A a Z e do Colégio Curso Kepler, no Rio de Janeiro. Músico amador, ele é membro de uma banda e hoje já tem 13 músicas sobre diferentes tópicos da matéria, que pretende gravar para uso dos alunos. Um dos destaques é a balada “Bactéria não tem carioteca”, uma paródia de “Como eu quero”, da banda Kid Abelha.

Segundo Bruno, a ideia surgiu de uma professora de métodos paradidáticos que ele teve na faculdade. "Minha primeira experiência com isso foi uma música que fiz para um seminário da faculdade, o ‘Funk dos rotíferos’. A professora gostou, inscrevi a música em um concurso de métodos paradidáticos. Depois de uns dois anos falei ‘acho que vou tentar aplicar isso no pré-vestibular’”, diz.

A Feira de Caruaru,
Faz gosto a gente vê.
De tudo que há no mundo,
Nela tem pra vendê,
Na feira de Caruaru.

O Átomo de Carbono,
Tem coisas para se ver
Anfótero, Tetravalente
E agora vou aprender!
Do átomo de carbono."
Letras de 'A Feira de Caruaru'
e da paródia 'O Átomo de Carbono'

No Ceará, o professor de química Idalmir Nunes, de 50 anos, é um veterano na arte de transformar aulas em shows, prática que aplica desde antes do ano 2000.

Vindo de uma família de músicos, Idalmir teve a ideia de compor uma música para ajudar os alunos a memorizar a nomenclatura dos ácidos depois de ouvir uma canção feita por outro professor.

“Fim uma parceria com um amigo, a música era dele e a letra era minha. Os alunos gostaram, mas não conheciam a música, então sugeriram usar uma música conhecida”, explicou o professor cearense, que decidiu então introduzir canções de Luiz Gonzaga como paródia. Surgiu assim "O Átomo de Carbono", um forró baseado na famosa "A Feira de Caruaru".

Assim como os outros professores, a iniciativa foi bem aceita por Idalmir e ele chegou a gravar um CD com mais de dez canções em um estúdio. Ele vendeu as 200 cópias feitas e hoje reproduzir o CD gratuitamente.

Cereja do bolo
Todos os professores são unânimes em afirmar que a música não deve ser usada como método único, mas como complemento da aula. “No meu caso, a música sempre esteve integrada a um método de aula. É a cereja do bolo de todo o trabalho envolvido na gramática”, contou Maurício, do Henfil.

Idalmir explica que “a aula com música é um recurso pra ajudar, mas não dá para simplesmente estudar pela música”. Segundo ele, a música não substitui o professor na sala de aula com a dinâmica que ele tem com os alunos.

Mesmo sem estatísticas, o resultado eles comprovam na reação dos alunos. Todos afirmam que ouviram comentários dos alunos sobre como uma música os ajudou a acertar uma questão em prova ou não cometer erros gramaticais em uma redação.

“Já vi parte de trás de prova minha onde o aluno copiou a letra da música. Acontece, mas não é o objetivo, eu faço para poder dar uma quebrada nas aulas”, conta Bruno. Segundo ele, o impacto real é “puxar o aluno para dentro, chamar atenção dele em relação ao tópico, é muito mais eficiente que método decoreba”.

Memória
Ocimar Munhoz Alavarse, professor de avaliação e política educacional Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), afirma que a decoreba não é algo ruim, o importante é decidir o que é preciso memorizar. “Quem não decorou o alfabeto não vai aprender a ler. A decoreba virou uma expressão pejorativa, que remete às pessoas que decoram reza e não sabem o que essas coisas significam”, explica.

Para ele, algumas provas já fazem isso e, por exemplo, incluem a fórmula do cálculo no enunciado da questão. “A fórmula você não precisa saber, tem que saber usar a fórmula, esse é um aprendizado que você precisa ter decorado.”

Ocimar alerta, porém, que muitos objetos de conhecimento são apreendidos na memória de curto prazo, em especial os assuntos que estudantes precisam aprender para o vestibular, e depois são descartados. “Há um ditado alemão que diz: ‘a nossa formação é tudo aquilo que fica depois que esquecemos tudo o que podia ser esquecido’”, afirma o professor.

Os próprios alunos também tomam iniciativas e criam suas próprias paródias e, assim como muitos professores, acabam ganhando fama na internet. Um exemplo é o de um grupo de estudantes do terceiro ano do ensino médio de uma escola do interior da Bahia.

Em agosto, ao buscar uma solução criativa para decorar fórmulas de geometria e calcular a área de um cone, eles pegaram o trabalho de escola proposto pelo professor de matemática e criaram um clipe paródia de “Telephone”, de Lady Gaga e Beyoncé.

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