quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Educação - Tragédia no ABC: Sala onde professora foi baleada será desativada



 Tragédia no ABC: Sala onde professora foi baleada será desativada
Jaqueline Falcão (jaquefalcão@sp.oglobo.com.br) e Leonardo Guandeline
(leonardo.guandeline@sp.oglobo.com.br)Com CBN e Fantástico

SÃO PAULO - A sala de aula onde o aluno David Mota Nogueira, de 10 anos, atirou na professora, em uma escola de São Caetano do Sul, no ABC paulista, na quinta-feira passada, será desativada. A informação foi dada pela diretora da Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, após depoimento à polícia nesta segunda-feira. Márcia Gallo disse que o local ficará fechado e deve ser transformado em uma sala de leitura e outros trabalhos.

Márcia foi ouvida nesta tarde pela delegada Lucy Fernandes, que investiga o caso. À polícia, confirmou que na própria quinta-feira, um menino que estudava na mesma sala de David voltou à escola, horas depois da tragédia, e foi ouvido por uma psicóloga encaminhada pela Prefeitura para o local.

- Ele disse que David gostava da professora e que só queria assustá-la, que era só uma brincadeira - diz Márcia Gallo. 

Na quarta-feira, a delegada deve ouvir pelo menos 5 crianças e a psicóloga que conversou com o garoto. Nesta segunda e terça-feira, seis psicólogos estarão na escola para conversar com pais e alunos. As aulas devem ser retomadas na quarta-feira. 

- Com certeza vamos juntos enfrentar esta situação - disse a diretora.

Segundo Márcia, depois do crime, a coordenadora e professores e ela própria ligaram para todos os pais de alunos da 4ª série. A escola tem três turmas da 4ª série, a mesma que David cursava.

Ao Fantástico, da TV Globo, um outro garoto, que estudava em outra sala, também disse ter ouvido David falar em matar a professora, mas achou que era brincadeira. De acordo com Márcia, esse menino saiu mais cedo da escola no dia do crime. A diretora disse que nenhuma criança relatou ter visto David com uma arma.
A professora Rosileide Queiros de Oliveira, 38, baleada pelas costas, na região do quadril, permanece internada no Hospital das Clínicas (HC). Ela deve ser ouvida na quinta-feira pela manhã, no hospital, pela delegada Lucy Fernandes.

- Quero saber se ela (a professora) teve algum problema com o menino ou com algum amigo dele. É isso que eu quero saber dela - disse a delegada.

Neste fim de semana, a professora recebeu a visita de Márcia e da coordenadora pedagógica da escola, Meire Cunha. Segundo a diretora, ela ainda não sabe da morte da criança.

- Ela não sabe que o David morreu. Não tocamos neste assunto, nem sobre o retorno dela ao trabalho. Falamos da sua saúde e a Meire fez uma oração para ela - disse Márcia.

Uma irmã de Rosileide confirmou que a professora sabe apenas que uma criança se feriu. Como estava de costas, ela não viu quem a baleou. Quando foi citado o nome de David, a professora teria se surpreendido e dito que ele era uma das crianças mais calmas da sala e só tinha notas boas.

O depoimento do pai de David deve ocorrer na sexta-feira. A arma usada por David pertencia ao pai dele, que é guarda municipal. Em São Caetano do Sul, os guardas trabalham armados, mas o revólver que Davi levou para a escola era de uso particular. Milton levava a arma nos bicos que fazia como segurança fora do expediente.

Os pais do garoto afirmaram que não se sentem culpados pela tragédia.

- Não me sinto culpado. Eu simplesmente acho que isso que aconteceu é uma tragédia. A gente tem que lamentar - afirmou o pai, Milton Nogueira, ao Fantástico.

- Não sinto, porque o Davi até na quarta feira foi tudo normal a vida dele - afirmou a mãe, Elenice.
Ao Fantástico, o pai do menino contou detalhes do dia da morte do filho.

- Liguei para minha esposa no desespero. Perguntei para ela: 'Amor, você mexeu no guarda-roupa?'. 'Não, não mexi'. Aí já veio logo os meus filhos, porque só estava a gente em casa. Aí fui até a escola por volta das 13h20m. Chamei a coordenadora, pedi que queria falar com meus dois filhos. Os dois desceram, e ele foi o primeiro a descer da sala. Eu cheguei, questionei a ele: 'Filho, você mexeu com a arma do pai?'. Ele abriu a mãozinha: 'Pai, não mexi'. Meus filhos nunca mentiram para mim. Meu filho mais velho falou: 'Pai, se o senhor quiser ir lá em cima olhar minha mochila, o senhor pode subir na sala e ver a minha mochila'. Falei: 'Filho, não precisa'. Subiram os dois juntos, abraçados" - lembra Milton Nogueira.

Perto das 16h, o telefone do guarda municipal tocou.
- Aí meu filho mais velho, eu recebi um telefonema dele da escola: 'Pai, o senhor não acredita. Foi o Davi que trouxe a arma do senhor, pai. Ele deu um tiro na cabeça'. Recebi a notícia do meu filho mais velho. Essa arma exatamente ficava em cima do guarda-roupa, na parte de cima do guarda-roupa, na última parte. Tem umas cobertas, eu colocava embaixo. Os dois têm orientação: a arma foi feita para matar. Ela não tem outro objetivo - disse Milton Nogueira.

Elenice disse que o marido nunca deixava a arma carregada, mas naquele dia tinha ficado. Milton pode responder criminalmente se ficar provado que não teve cuidado ao manter o revólver longe dos filhos. O crime está previsto na Lei do Desarmamento, e a pena é de 1 a 2 anos de prisão.

Religioso, o menino tinha acabado de completar 10 anos. Cursava o 4º ano em uma sala e sentava em uma carteira na terceira fila. No boletim, tinha notas 8 e 9 e nenhum registro de problemas disciplinares. A última reunião de pais foi na semana passada, e a mãe só ouviu elogios. Duas professoras deram as últimas aulas para Davi pouco antes da tragédia. A turma estudava matemática quando o pai chamou Davi para perguntar sobre a arma.

- Ele desceu para falar com o pai dele. Voltou, sentou e continuamos a aula normalmente, sem alteração nenhuma - diz a professora Ana Paula.

Na aula seguinte, Davi chegou a conversar com a professora Priscila Razzante.
- Ele veio me mostrar umas figurinhas do álbum do Brasileirão e ele veio me mostrar que ele estava com umas figurinhas repetidas - conta.

O irmão mais velho, de 16 anos, também falou sobre a última vez que viu David:
- Enquanto a gente andava em volta da quadra, eu pude ver ele. Semblante feliz, tranquilo, conversando com os amigos dele sentado no banco. Em nenhum momento, ele me contou que estava com a arma. Em nenhum momento, eu desconfiei que ele estava com a arma. Só a partir do momento que eu escutei o primeiro disparo, que eu senti no coração, eu virei pro meu amigo e falei: 'Meu, acabou'".

Fonte: http://oglobo.globo.com/cidades/sp/mat/2011/09/26/tragedia-no-abc-sala-onde-professora-foi-baleada-sera-desativada-925444272.asp

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